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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A moça na janela


Já são quatro horas, próximo ao porto da capital. No alto da colina o sino da velha igreja retine- grande sino- sino púmbleo, talhado, moldado por mãos humanas, que, pela beleza, parecem divinas; os detalhes, as formas e gira... retine, badala;
O sol voraz já começa a fundir-se com as cândidas e risonhas nuvens. As aves já voltam, gorjeando, para seus ninhos, construídos arduamente no alto das frondosas mangueiras. Seus cantos harmoniosos são ouvidos pelos enamorados, que, a espreita, nos altos e belos casarões de taipa, ficam a esperar o outro que vem, que passa.
No casarão 82 vê-se, logo em frente a seus pórticos, um imenso jardim. Ao centro, a relicária fonte, continua sendo o chamariz, jorrando a águas cristalinas, que vão para o alto agressivas e voltam calmas, tênues, mansas.
Lá está ela sentindo a brisa vespertina penetrar-lhe os longos cabelos louros e o frescor que emana da fonte tocar-lhe o pueril e delicado rosto. Da janela azul do casarão 82, a moça contorna a estreita e pedregosa rua, buscando com seus olhos negros e inocentes, aquele que, outrora, tolheu-lhe o sossego e a calma.
O coração palpita desconcertado, o bem-amado pode ser visto descendo a ladeira, usando o terno do primeiro encontro. O terno de linho, branco, bem engomado; trazendo uma gravata, levemente dispostas sobre o peito e na cabeça, sobre os fios castanhos, seu chapéu de camurça.
A moça se apressa, corre, vislumbra. Entra em seu quarto, no final do corredor espelhado, coloca seu vestido azul, que celeste ou não, traz consigo rendas francesas e botões prateados.
Toma em suas macias e pequeninas mãos o frasquinho de perfume, ligeiramente passando-o no rosado pescoço, próximo a gargantilha, que em outros tempos pertencera à avó.
Não, não se pode esquecer: ela derrama o mesmo perfume adocicado, sobre um lenço, por vezes, inútil no fundo da gaveta.
Regressando velozmente, ouve-se o estardalhar dos seus sapatos no assoalho, lustrado e encerado a pouco. Ele a espera, sorridente; ela do segundo andar, à beira da janela de duas partes, acena-lhe com o lenço, que parece voar, batendo asas como as andorinhas que agora dormem.
O lenço transfigura-se em pomba, que voa, cintila e chega-lhe às ásperas mãos. Ele o beija ternamente, tal qual, sorve-se de néctar o beija-flor, sentindo o perfume doce da Rosa amada.
A lua baça corre paro céu, já estrelado. A tranqüila noite iniciara. As luzes, uma a uma, das ruas, dos casebres, dos casarões, das lâmpada e lamparinas começam a embalar num gracioso sono.
“É hora de ir...”- fecha-se a janela. O moço que se despedira de sua musa provençal, mergulha a pensar naquele pequeno lenço, dantes perfumado e amado. E desce a pedregosa rua, onde as rústicas pedras já não o atrapalham: as aspirações, os anseios, os desejos reprimidos, fazem-no transcender a sua própria existência.

3 comentários:

  1. Putz....
    Fico mtoo bom!!!!
    Tá de parabénss, gostei

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  2. Até costumes ultrapassados, quando revividos, nos deixam com vontade de parar com a vida e voltar a ser o que um dia já foram.

    Este texto é um álbum de fotos, observado com calma, imagem por imagem.

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  3. Sem palavras hahahahah

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